sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Quando eu tinha uns 12 anos, por aí...


 Quando eu tinha uns 12 anos, por aí... Imaginava que as coisas seriam diferentes, talvez pela imaginação mais criativa, sonhadora, criava um mundo completamente reversível, aonde o único termo que repetia-se a quase todo instante era o possível.  
 Pelas circunstâncias, imaturidade e outros afins, não havia nada que não pudesse acontecer, como eu disse: O possível era a minha chave mestra, abria todas as portas.                                                         
 Ir à escola, brincar com os colegas, encontrar e criar diferentes locais com os amigos.  
 A barraca de lençóis era o castelo; Os tijolos e os pedaços de madeira que sobraram de algum concerto dos meus pais eram os móveis; O salgadinho, os pães com geleia de morango e o bule com água, eram o café, o almoço e o jantar; Os primos e vizinhos eram os pais, mães, tios, filhos, a família; O papel era o passaporte e a caneta o local, o meu visto de viagem... Colegas eram amigos, amigos eram família, família era o primeiro pensamento do dia, e a coisa mais importante do mundo.                                                                                
Eu não ouso dizer que não havia brigas, guerras e mortes. No meu mundo havia o travesseiro, as bexigas de água e a tinta, mas tudo era bem mais saudável e humano.  
 Completei 13, 20, 25, 30, 42... E fui crescendo. Tive filhos, netos, bisnetos e comprei casas de todas as cores. Fui médica, dentista, pintora, professora, engenheira, cabelereira, artista, atriz, escritora... Fui tantas coisas e sabia um pouco de tudo. Não havia traição, remorso, arrependimentos, e medo, exceto o de bicho papão e de ter que acordar cedo num dia frio e gostoso de inverno.                                                                                                 
 Comprei um carro, uma moto, um caminhão, um avião e um navio, sério, minha bicicleta e o carrinho de mão eram todos os meios de transporte imagináveis e meu cachorro a minha secretária, qual atendia os clientes que me ligavam no meio da tarde. 
 Minha mãe fazia cachorros quentes e minha avó bolinhos de chuva, meus amigos adoravam e nossas tardes despertavam muito mais nelas a nós: a felicidade.                                     
 Quando os anos passaram, de verdade, no mundo real... Eu finalmente compreendi o porquê elas ficavam mais felizes que todos nós quando tomávamos banho de chuva, corríamos de pés descalços e brincávamos de cabra cega...                                                                      
 Eu compreendi, finalmente... Que a vida toma forma, a verdadeira, que as máscaras caem, que folhas de arvores não são dinheiro, que pessoas não são eternas, que colegas não são amigos, que empregos não são tão fáceis, que consolidar conhecimentos somente a base de muito estudo, que a experiência cresce com a vida, que bicicletas nem sempre nos levam aonde queremos e que as pessoas que mais amamos nem sempre estarão na sala ao lado assistindo a novela das seis.                                                                                    
 Eu finalmente compreendi que a minha chave mestra qual abria todas as portas do mundo havia se partido, do nada. Nem tudo era mais possível, nem todas as coisas dariam certo e meus sorrisos e tropeços nem sempre seriam verdadeiros.                             
 Passei dos 12 faz tempo, emoldurei fotos dos amigos dentro da barraca tomando café, guardei as cestas de pascoa e o gorro do papai Noel... Eu cresci, meus amigos cresceram, minha visão expandiu-se – em alguns aspectos -.                                                                                                                  
 O possível não deixou de ser o único termo permitido, mas o encanto de fazer qualquer coisa passou, partiu... Agora eu não faço de tudo possível, faço apenas o que é possível, o dentro do possível, conhece? Pois é.                                                                                                                            
 O encanto voa, as pessoas vão embora, as lembranças nos azucrinam e por mais difícil que pareça: A esperança de retornar a aquelas tardes de sol, chuva, frio, calor permanece intacta e brilhante... O sorriso e a felicidade estampados no semblante da minha mãe e da minha avó naqueles dias, hoje, finalmente – e infelizmente – fazem sentindo: É a saudade, a esperança, o desejo irreparável de reviver tudo o que não viveremos novamente, e... Ser feliz novamente, sonhar novamente, não que não façamos isso hoje, mas era tudo diferente.                                                                                                                                                                 
 O sorriso e a risadinha meio rouca da minha avó fazem sentido hoje, ela era tudo o que eu mais amava no mundo, e hoje, eu sou tudo o que ela era, e sorrio feito boba quando vejo alguém tomando banho de chuva e brincando de esconder na rua.                             A vida não passa, nem corre, nem voa... Ela muda!

Com carinho a todos que amam e sentem saudade da infância,                                 

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2 comentários:

  1. oiiii flor muito legal mesmo, sentimos saudades :( boa sorte com o blog bem legal!!111 beijinhosss ana!!

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    1. Obrigada Ana, que bom que gostou. Sentimos saudades, mas uma saudade boa. Continue visitando o blog e comentando. Beijos querida! =)

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